segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Superação do Vagabundo que nunca foi vagabundo.

De vez em quando alguém sai da curva normal e aumenta o desvio padrão de qualquer estudo estatístico sobre o ser-humano.

Foi assim que Ubirajara Gomes da Silva, que morou 12 anos nas ruas do Recife, dormindo embaixo de um pé de manga e usando um banco de praça como armário, passou no concurso de escriturário do Banco do Brasil em 2008, com um salário inicial de R$942,90 mais gratificação de 25%. Para quem ganhava em torno de dois reais por dia, o novo salário, cujo valor bruto é de quase R$1.200,00 é uma dádiva.

O ex-mendigo tem 1,74m e chegou a pesar 50 quilos. Todos os dias, com um real, passava no mercadinho e comprava uma pequena fatia de bolo-de-rolo e um copo de coca-cola. Para estudar, tinha que fazer uma opção, pagar o acesso à internet ou comer. Algumas vezes, preferiu estudar, à despeito da fome - e foi assim que tomou conhecimento desse e de mais outros 4 concursos e passou na posição 136 do concurso Banco do Brasil.
Deixando a história de superação de lado, que daria pano para muito texto pelo extraordinário do fato, o que mais me impressiona na história de Bira, como é chamado, é a percepção que as pessoas tinham dele. Em suas próprias palavras em uma entrevista a uma rede televisão, comentou que "vivia dormindo, era muito sonolento, minha pressão caía, e o pessoal falava, 'ele só quer dormir. É a vida que ele quer'. O pessoal me chamava de preguiçoso, de doido...". Taxistas da praça, que agora sentem falta do "louco" que só dormia e lia tudo o que passava nas mãos e no chão, também o viam como um preguiçoso, um vagabundo.

O que ninguém talvez tenha se dado conta na época (hoje é fácil realizar essa análise) é que com pouco açúcar no sangue e sempre com fome, não há cristão que consiga manter-se elétrico e sorridente. O sono era uma pura conseqüência da fome e... do próprio esforço de escolher estudar a comer.

A façanha de Ubirajara só ficou conhecida porque ele superou toda e qualquer expectativa e foi aprovado em um concurso público, passando de indigente a classe-média. Não fosse esse pequeno detalhe, o esforço, o trabalho, a dedicação, muitas vezes acompanhada de fome, não seriam percebidas. Seria apenas mais um mendigo - daqueles que lhe pedem esmola nas sinaleiras e você faz um sinal de negativo. Ninguém iria saber da sua capacidade e do seu esforço.
Hoje, depois do ocorrido, já praticamente uma celebridade na cidade, as pessoas o admiram. "É um exemplo de pessoa". Provavelmente essa mesma pessoa, não fosse o tão famoso detalhe de ter passado no concurso, o teria chamado de vagabundo naquela época, pois só queria dormir.

Percepção é tudo. Sendo você líder ou não, lembre-se de analisar a situação como um todo, de forma imparcial. Seu funcionário ou colega pode ter fracassado em uma tarefa ou em um projeto por uma centena de fatores, alguns muitas vezes ocultos.

O verdadeiro líder é aquele que entende, que estende à mão ao Bira e pergunta porque ele dorme tanto. O verdadeiro líder senta-se ao lado de Bira e conversa com ele. O verdadeiro líder repreende Bira quando ele talvez escolha erroneamente gastar o real excedente que tinha ganho a mais no dia com um outro copo de coca, ao invés de comprar algo mais nutritivo.
O verdadeiro líder pode até, por descuido, abandonar o Bira, mas nunca, nunca mesmo, o chamará de vagabundo porque o viu dormindo em um banco da praça sem entender todo o contexto antes.
Dr. Zambol




# Post Extraído do Super Blog  #  TRIBO DO MOUSE

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